quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

introdução


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Inicia-se este trabalho com uma pergunta: o que se ouve entre a opy e a escola?
Ouve-se alguém? ouvem-se vozes? ouve-se um povo? Como se vê as perguntas proliferam. Perguntas peculiares estas que não exigem resposta, só incitam a imaginação a avançar. Pois, quem pode responder pelos Guarani? A partir disso, se destaca a dimensão narrativa deste trabalho.

Visto que a introdução permite que se quebre o protocolo e se fale com o leitor (pode ser a chance, ainda que por um momento, de despistar a moral de estado que nos sonda), um aviso: a qualquer um que se proponha a ler tal incursão, já se adianta: esta narrativa não tem em mente (o tempo todo, é claro) um leitor ideal (tais narrativas se tornam chatas e farsescas). Para falar a verdade, por vezes, se esquece o leitor. A narrativa, ainda assim, é guiada por um ouvir.

Outro aviso ao leitor possível (note-se que não falo possível leitor) pode valer como dica: o narrador aprendia a narrar enquanto narrava. Embora seja narrador por decisão e de formação, ainda que não de profissão (a pesquisa se financia com recursos próprios) a aprendizagem é o propósito deste trabalho. E sou grato por tudo o que pude aprender até agora.

Não se pretende aqui saber o que não se sabe. Certo que a força motriz desta máquina, ou se diria flecha..., e certa “proposição batalhadora”, a partir da qual só se aprende no limite do próprio saber. Portanto, a frase pretende que esta não seria propriamente uma investigação, caso se compreenda investigação como processo de verificação. O esforço aqui investido busca... Busca. Erra, destina-se. Não se compraz aqui com respostas sobre o que sejam esses imperceptíveis nômades do devir.
Bom, quanto aos outros não posso saber. Já em relação a este texto que ora se apresenta, fundamenta-se numa experiência de saída para a vida, de resistência, de criação de possibilidades de existência, de vida: tudo no canto-dança. Todas as intuições aqui apresentadas norteiam-se pelo jeroky/mborahei: canto-dança. É a ritualidade apropriada como dispositivo de compreensão.

É importante, igualmente, se afirmar na introdução o que não se faz. O que não se faz: explicar tal pensamento por seu modo de transmissão social de conhecimento. Assim, ao falar sobre o ouvir, não me refiro a propriedades pré-existentes na cultura guarani, e sim, crio algo que se dá em meu encontro (outro) com essa tradição. Esse algo pode ser útil para mim, para o leitor, para os (próprios) Guarani...

Outro ponto a que se destina com cuidado: em certa passagem intuitiva (na verdade, apropriada, via ritualidade e seu canto-dança) evocou-se uma fórmula pela qual tenho gosto: a consagração que constitui toda aprendizagem. Ao associar consagração e alteridade à relação de aprendizagem define-se este trabalho, resultado da convivência entre amigos (lato sensu).

Este princípio vai se metamorfoseando ao longo do caminho até tomar a forma de um tal princípio de composição explícito no processo, resultado da supressão do princípio oculto, que dá a perceber sem ser percebido. Tal exercício prestou-se à guiar-nos pelos vieses do entre, sem que se esquecesse da associação primeira, que forneceu o chão em que pisamos.

Ainda há os corpos e vozes transmutados ao longo do texto. Tratam-se bem de traduzir o subtítulo, que seria O mborahei guarani.

Uma última sugestão ao leitor possível (não se confundir, insisto, com possível leitor, o que excluiria o presente autor) é que consulte, a (por) princípio, a bibliografia. O índice de uma dissertação de mestrado, como de outros textos que a possuem, devia trazê-la no início, ao invés de no final, visto que tal trabalho, por não ser uma tese, tem caráter de levantamento bibliográfico. Esta simples consulta pode privar o leitor possível de futuros inconvenientes possíveis.

Por fim, para se instaurar a dança são necessários, no mínimo, dois passos. O trabalho que se tem em mãos resulta de tal conversão, visto que se inicia numa direção e, então, retorna. Não, não é um erro, esses vêm na errata, talvez, um equívoco, no sentido de vozes que se equivalem. Enfim, não há segundo passo sem o primeiro.

O autor.